Foi um debate morno entre Aristides Lima e Jorge Carlos Fonseca. O primeiro debate presidencial ficou marcado pela ausência de novas ideias. Leia o relato feito pelo correspondente da Lusa em Cabo Verde, José Sousa Dias.
Morno, sem ideias novas mas com elevação foram os ingredientes do primeiro debate entre dois dos três candidatos presidenciais cabo-verdianos, que se arrastou terça-feira ao longo de quase três horas na Universidade Jean Piaget, na Cidade da Praia.
Aristides Lima e Jorge Carlos Fonseca foram os convidados de honra do 10.º aniversário da criação da UNI-Piaget para um debate que deveria ter contado também com Manuel Inocêncio de Sousa, que acabou por não comparecer, alegando motivos de agenda.
Com um atraso de cerca de meia hora, o debate teve um auditório cheio, composto por estudantes, docentes, representantes de associações, partidos políticos e outras entidades.
Os dois candidatos apresentaram as suas posições sobre a visão da presidência, num ambiente caracterizado pela serenidade, sem insultos e em que se falou de quase tudo – violência baseada no género, poder local, justiça, corrupção, desemprego, segurança e salário mínimo, entre outros temas.
Com ambos os candidatos praticamente de acordo em quase tudo, apenas “divergindo” na forma como as frases se soltavam, o debate teve como “ponto alto” a altura em que Aristides Lima considerou o seu opositor como um “peregrino da política”, aludindo ao facto de Jorge Carlos Fonseca ter passado por vários partidos.
“Tenho muito orgulho no meu passado”, respondeu Jorge Carlos Fonseca, numa referência ao facto de ter começado a sua actividade política no Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), mudando, depois, para o Movimento para a Democracia (MpD) e, depois ainda, para o Partido da Convergência Democrática (PCD, que fundou).
Aristides Lima, atualmente deputado, alegou que, apesar de ter ocupado cargos políticos no PAICV, durante os dez anos em que foi presidente da Assembleia Nacional (AN) provou que pode exercer cargos públicos com “imparcialidade”.
Jorge Carlos Fonseca, reiterando que está fora da actividade política há mais de uma década, referiu que não acredita que alguém com “herança de liderança política” possa conseguir manter a autonomia que se exige a um Presidente da República.
Na possibilidade da realização de uma segunda volta, os dois candidatos foram instados a indicar qual seria o adversário preferido. Ambos preferiram não comentar, afirmando que aceitarão qualquer adversário com "respeito", mas mostraram-se ainda convictos de que vencerão a votação à primeira volta.
Sobre a possibilidade do aparecimento de uma quarta candidatura, a de David Hopffer Almada, ambos alegaram que a aceitariam “com naturalidade”, constituindo um fator de enriquecimento para o debate político e para a democracia.
Quanto à ausência de Manuel Inocêncio, ambos reconheceram que, se estivesse presente, o debate seria mais interessante, sobretudo para a plateia.